Caros
companheiros. Antes de abordar propriamente o assunto que me levou a escrever
este artigo, gostava de introduzir uma série de elementos que ajudam a
enquadrar e dar sentido à minha exposição.
Durante
a adolescência, todos nós, de uma forma ou de outra, começamos por “descobrir”
o mundo que nos circunda, começamos a perder a ingenuidade que mais tarde,
quando adultos, recordamos com nostalgia. A adolescência, para além de uma fase
que se pauta por inúmeras alterações hormonais, podemos dizer, também, que é um
período de irreverência e contestação, aliás, Che Guevara ainda vais mais longe
ao afirmar que “ser jovem e não ser revolucionário é uma
contradição genética”. Na minha
opinião, o fundo que preside este estado de inconformidade característico nos
jovens deve ser entendido como algo positivo, uma vez que pelo menos contribui
para o desenvolvimento do sentido crítico, do questionar, de duvidar daquilo
que nos é imposto, impedindo, desta forma, que mais tarde sejamos seres
acríticos, meros autómatos subservientes, condição avessa à manutenção de um
Estado Democrático mas favorável a um regime totalitário, já que os cidadãos
não precisam de participar ativamente na vida política, havendo um conjunto de “iluminados”
capazes de conduzir o rumo da nação de forma incontestável.
Ora, se estar em democracia passa,
também, por ter uma postura ativa, dinâmica nas mais variadíssimas esferas que
interferem a condução de um povo, de um país, ou de uma região, não podemos ser
simples contestatários de rua, praticantes do desporto nacional nº 1: ser
treinador de bancada, é preciso bem mais que isso…
Como qualquer outro jovem, durante a
minha adolescência, ao aperceber-me dos diversos flagelos que afetam as nossas sociedades
questionei a legitimidade do sistema político, económico e religioso, já que apesar
de deterem a força motriz para o desenvolvimento da humanidade, paradoxalmente
são responsáveis por conflitos, fome, desigualdades sociais… Com o fim da
adolescência e início da idade adulta senti a necessidade de me tornar um
cidadão mais ativo e comecei por explorar o meu interesse pela política. Após
me informar devidamente percebi que os meus valores se enquadravam com a matriz
ideológica defendida pelo Partido Social Democrata. Decidi fazer-me militante. Naquela
altura, para ser sincero, sabia pouco sobre juventudes partidárias, apenas pretendia
aproximar-me mais do “mundo” da política, perceber como este opera, manter-me
informado e, se possível, dar o meu contributo ao PSD. Mais tarde, e sem que
disso estivesse à espera, surgiu a oportunidade de ingressar numa lista
candidata à Comissão Política da JSD Concelhia de Chaves, pela primeira vez
senti que realmente seria esta a grande oportunidade de fazer política,
aprender e trabalhar com tantos outros jovens cheios de vontade e determinação
em participar ativamente naquele projeto ambicioso, seja através da reflexão e
criação de propostas que defendam e salvaguardem os interesses da juventude,
seja dinamizando e reforçando toda a estrutura.
Na JSD aprendi que as juventudes partidárias
têm um papel determinante na nossa democracia, não só na óbvia defesa dos
direitos dos jovens e na própria renovação dos quadros políticos - tal deve
necessariamente ocorrer sob pena de pessoas assumirem cargos de extrema
responsabilidade sem qualquer experiência política - como também, e a meu ser
este o ponto central, na sensibilização e tomada de consciência dos jovens da
importância de participarem ativamente na vida política. Foi precisamente esta
ideia que motivou a minha reflexão e por isso mesmo gostaria de a explorar com
maior profundidade. Sem querer fazer generalizações abusivas, podemos afirmar,
infelizmente, que a opinião pública tem uma ideia muito pejorativa do
“político”, este é visto como alguém desligado de valores e ideais coletivos,
alguém que se move estritamente pelos seus próprios interesses, tirando partido
da posição que ocupa para amealhar avultadas quantias de dinheiro “à custa dos
cidadãos”. Numa palavra, o político, para o povo, é uma espécie de ser imoral,
egocêntrico, facilmente corrompível, insensível ao sofrimento alheio.
Independentemente das críticas e do
descrédito de que hoje é alvo, a política será sempre a profissão mais nobre!
Se atentarmos à génese da política - arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados – e
lermos aquilo que os teóricos preconizam relativamente ao
contrato social, percebemos que o Homem, no seu “estado natural”, isento de
qualquer tipo de vinculação a normas, vivendo assim num estado de conflito
permanente, abdicou de parte da sua liberdade para que uma autoridade fosse
capaz de garantir o usufruto do seu remanescente em segurança. Ora, pergunto eu,
esta sublime tarefa de “gerir a liberdade” de centenas, milhares, milhões de
pessoas não deveria ser a mais prestigiante, honrosa e louvável?
Enquanto jovem membro de uma juventude
partidária, preocupa-me bastante esta espécie de “bullying” que muitos de nós
sofrem quando revelam a sua filiação partidária. As pessoas, no âmbito geral, já
não acreditam em partidos, e os jovens que os acompanham são rotulados como
“alpinistas” sociais, indivíduos que desde tenra idade abanam bandeiras nos
comícios na esperança de mais tarde serem “recompensados”. Digo-vos com toda a
sinceridade que esta imagem estereotipada criada pelos cidadãos relativamente à
classe política me tem vindo a preocupar bastante. Sabendo nós a missão e o
papel do político na sociedade civil, na minha opinião, este descrédito de que tem
vindo a ser alvo é uma autêntica machadada à nossa democracia, pois compromete
e fragiliza a legitimidade das instâncias estaduais, impedindo, desta forma, o
seu bom desenvolvimento.
Cabe-nos a nós, militantes e responsáveis
por funções partidárias, alterar esta condição através do exemplo, demonstrar que
os altos cargos políticos, seja no poder central, seja local, apenas devem ser ocupados
pelos melhores, pelos mais dotados e credíveis, pessoas que pelo seu esforço,
trabalho e dedicação em torno do bem comum, merecem assumir a responsabilidade
de governar. Tal como disse Sá Carneiro, importa “saber estar e romper a tempo,
correr riscos da adesão e da renúncia, pôr a sinceridade das posições acima dos
interesses pessoais – isto é a política que vale a pena!”
Saudações
social-democratas
Nuno
Montalvão
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