Até que ponto a política é compatível com a ética? A política pode ser eficiente, se não incorporar a ética? Será excesso de moralismo exigir que a política considere os valores éticos?
Quando se trata da relação entre ética e política não há respostas fáceis. Há quem considere que esta é uma falsa questão, por outras palavras, que a ética e a política não se misturam. Quem assim pensa adota uma postura que nega qualquer vínculo da política à moral: os fins justificam os meios.
O “realismo político”, ou seja, a busca de resultados a qualquer preço, subtrai os atos políticos a qualquer avaliação moral, entendendo esta como restrita à vida privada, dissociando o indivíduo do coletivo.
Uma visão ético-política prossupõe que a moral é um fator social e, como tal, não pode restringir-se ao santuário da consciência dos indivíduos. Embora a moral se manifeste pelo comportamento do indivíduo, expressa uma exigência da sociedade (exemplo disso é a adoção dos diversos “códigos de ética”).
Com Maquiavel cai por terra a falácia da política enquanto busca da justiça, do bem comum. A fraseologia cristã-medieval, fundada na moral religiosa, mascara o fundamento da política e do Estado: a manutenção do poder político em torno das classes dirigentes altera-se em cada época histórica. Conquistar e manter o poder - eis, em síntese, a finalidade essencial da política. É neste sentido que Maquiavel cunha a sua famosa e mais polémica frase: “Os fins justificam os meios”.
Os fins justificam os meios, é verdade. Mas apenas na medida em que os meios não entrem em contradição com os fins conseguidos ou que se pretendam conseguir. Nem tudo é permitido!
Toda a experiência do “socialismo real” expressa a comprovação histórica de que não basta proclamar certos fins — por mais justos que sejam —, é preciso encontrar os meios adequados para possibilitar o trilhar de caminhos que favoreçam a melhoria geral das condições de vida das comunidades.
A ideia atrás referida, se devidamente analisada, deveria colocar-nos diante de problemas concretos. Caso contrário, levar-nos-á a “mergulhar na fossa profunda da aridez política”.
Adélia Morais