Sá Carneiro queria “um País em que, um dia, os idosos tivessem presente e os jovens tivessem futuro”.
Nesta frase, elementar e intensa, condensou o objetivo social-democrata que continuamente o inspirou.
Na tomada de posse do seu Governo de Aliança Democrática (1980/01/03), declarou:
“A pessoa é a medida e o fim de toda a atividade humana e a política tem de estar ao serviço da sua inteira realização. Essa é a nova regra, o novo início, a nova meta”.
Sá Carneiro sempre soube ser, ao mesmo tempo, estrategicamente intransigente e taticamente eficaz.
Intransigente, nos valores e fundamentos da sua visão sobre a social-democracia, arrastando e vencendo oposições internas.
Eficaz, no aproveitamento evolutivo das conjunturas, modificando com rapidez as opções instrumentais e ganhando, em cada lance, mais espaço político á esquerda.
Os pilares e opções de fundo da sua visão permaneceram invariantes e ele foi inabalável na convicção e brilhantismo com que as defendeu.
Sá Carneiro dizia que o Estado deve estar ao serviço da pessoa e não a pessoa ao serviço do Estado.
Que, à pessoa, o Estado deve dar mais, em troca do que lhe pede, ou pedir menos do que lhe pode dar.
Que os governos se devem preocupar mais com as próximas gerações do que com as próximas eleições.
Que os governos devem, em simultâneo, ajudar a criar mais riqueza e distribui-la com mais justiça.
Que devem governar acima dos interesses de sectores e classes, e assumir a responsabilidade de decidir, depois de ouvir todos os que devem ser ouvidos.
Sá Carneiro queria uma sociedade civil forte, para se defender dos abusos do Estado, e para ser a força motriz de novas liberdades individuais.
Mas queria também que o Estado fosse forte, para estimular a criação da riqueza, gerar igualdade de oportunidades e justiça social e colocar, na primeira linha das prioridades políticas, a solidariedade e o apoio aos pobres e desfavorecidos. Um Estado necessário e suficiente.
Há, na matriz da social-democracia de Sá Carneiro, originalidade e portugalidade e há também uma premonição sobre o futuro que a torna atual.
Ele verbalizava que a social-democracia está muito mais adaptada do que o socialismo democrático à sociedade pós-industrial, à sociedade do conhecimento e da informação.
Esteve certo no seu tempo e inspira-nos no nosso tempo, nunca deixando de afirmar a originalidade dos valores e fundamentos da sua visão social-democrata.
O primado do Homem sobre o Estado, o personalismo cristão, a natureza interclassista do PSD, a liberdade, como condição necessária, mas não suficiente, de uma vida plena, a justiça e a solidariedade social, como métodos contra as desigualdades e o egoísmo.
Isso porém, não o livrou de ser acusado de liberal, logo nessa altura, por parte de outros, ideologicamente situados mais à esquerda.
Demonstrou que a social-democracia precisa, em simultâneo, da pulsão liberal e de um Estado prioritariamente social.
Hoje, como nesse tempo, precisamos de maior liberdade e de menor e melhor Estado.
“Em democracia, tudo deve ser simples e relativo, e nada deve ser encarado sem o sentido da proporção e sem um mínimo sentido de humor. Mas nada pode ser encarado, e sobretudo resolvido, sem o sentido da realidade”.
Os problemas atuais são diferentes, mas a bravura e clareza de que precisamos são iguais, para definirmos novas prioridades voltadas estrategicamente para o porvir.
Mas, como proferia um general francês “Na estratégia, decisiva é a sua aplicação.”
Nelson Montalvão
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